A IGREJA E A QUESTÃO SOCIAL

by - junho 11, 2021


 A IGREJA E A QUESTÃO SOCIAL


Com base nos textos e à luz dessa encíclica, responder:


a) Sobre a exploração da classe operária e os “remédios” propostos, qual era o pensamento de Dom Ketteler?


Dom Ketteler expões suas ideias na obra “A consciência social e o cristianismo”, publicada em 1864, cuja principal análise no campo social foi descrita no Relatório para conferência Episcopal Alemã (1869). O autor desaprovava o liberalismo e o individualismo  econômico-político, bem como a demasiada intervenção do Estado. Ketteler aborda a origem da questão social esclarecendo quais eram os motivos que haviam estabelecido a atual condição da exploração da classe operária.

A nova organização do trabalho acarretava desrespeito à dignidade humana. Ketteler exemplifica essa situação descrevendo que as relações entre patrões e operários eram explosivamente motivadas pelo dinheiro; que o salário não era regulado pelo mérito nem para suprir as necessidades de sobrevivência; afirmava que os operários não tinham motivações para vencer o estado de pobreza, pois se sentiam desmotivado, sem ânimo devido as longas jornadas de trabalho justamente lhes faltava qualquer apoio para terem esperança de melhoria no futuro. Foi através dessa compreensão que D. Ketteler idealiza que seria preciso encontrar uma maneira de humanizar a classe operária, que ele mesmo nomeia como "massas selvagens". 

Da mesmo forma que o Bispo Ketteler analisa a situação da exploração operária na sua obra, Santo Padre Francisco, no decorrer da carta encíclica Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social, enfatiza que a especulação financeira, tendo a ganância de lucro fácil como objetivo fundamental, continua a fazer estragos (Francisco, Carta enc. Laudato si’, 24 de maio de 2015, 129: AAS 107; 899).

Com os problemas da classe operária identificados por Ketteler, o mesmo elabora alguns “remédios” possíveis para mitigar tal situação:

  • Sugere que o episcopado alemão promova um programa de reformas, onde operários participem dos lucros; projetos que envolva providências às mães de família; intervenção do Estado para estabelecer limites em relação às horas de trabalho; interdição dos locais de trabalhos insalubres; repouso aos domingos, etc.

  • Necessidade de uma renovação da praxe eclesial, no sentido de comportar a qualificação do clero de modo a atender as novas exigências; a igreja deve sobretudo estimular o zelo pela classe operária; acrescentar a discussão sobre a questão operária nos cursos de filosofia, teologia pastoral e seminários; viagens gratuitas aos eclesiásticos com o objetivo de estudar os problemas da economia política e suas devidas soluções.



b) Qual era o problema básico abordado pela Rerum Novarum e qual foi o passo avançado dessa encíclica?


Rerum Novarum é uma encíclica publicada pelo Papa Leão XIII em 15 de maio de 1891. Trata-se de uma carta aberta que discute as relações e os deveres mútuos entre trabalho e capital, bem como entre o governo e seus cidadãos.

O problema básico que norteia todo o documento é o da dignidade do homem, evidenciando os princípios para resolver a questão operária. Nesse sentido, os desejos de mudança da ordem política para o setor da economia agregavam progressos na indústria, novos caminhos para as profissões, mudanças nas relações entre patrões e operários. Contudo, desencadearam também miséria da multidão, acúmulo da riqueza nas mãos de poucos. Foi então que os trabalhadores adquiriam uma maior união entre si.

A encíclica dá um passo avançado quando desperta o grande interesse no mundo católico, propondo iniciativas um tanto quanto ousadas como convidar os trabalhadores católicos a construir suas próprias organizações sindicais. Contudo, a encíclica apresenta inovação sobre a vida e o comportamento cristão relacionados a economia e a sociedade:

- É a primeira encíclica que interpreta o quadro econômico, social e político do século passado;

- É a primeira encíclica sobre justiça visando a paz entre capitalistas e proletários

- É a primeira encíclica sobre os direitos da pessoa que tem como base a dignidade do trabalhador e os deveres do Estado em relação aos operários;

- A primeira encíclica sobre os princípios da solidariedade e da subsidiariedade.

Através desses e outros ensinamentos, o documento posiciona-se como resposta aos problemas da dignidade do homem do século XIX. 


c) A leitura da realidade feita na Rerum Novarum esteve ligada ao projeto do “Estado Cristão” Quais eram os limites e consequências dessa proposição?


Em suas origens, com a Rerum Novarum, a doutrina social da Igreja propõe uma categoria fundamental de leitura da realidade, que se coagula em torno do projeto de “Estado Cristão”, com isso, a relação entre os crentes e a sociedade passa pela cristianização do Estado e das suas estruturas. O Estado não pode ser indiferente em relação ao plano religioso, deve reservar espaços adequados à religião e reconhecer os direitos da Igreja.

Os limites dessa Proposição estão principalmente no fato de que oferece uma visão particularista da doutrina social cristã e reserva um papel relevante demais à “Igreja-instituição”. Com o consequente descuido da responsabilidade do laicado, como a sociedade que estava se delineando era necessariamente conflitiva a Igreja Praticamente se alinhou em duas frentes opostas e em certo sentido teve que lutar contra ambas, a liberal e a socialista, sem ter um ponto de apoio concreto a propor. Com isso, se tornou ainda mais difícil sua caminhada.

A solução proposta pelos socialistas é ineficaz e injusta. Para corrigir esse mal, os socialistas incitam os pobres ao ódio contra os ricos e sustentam que a propriedade privada deve ser abolida, e que os bens de cada um devem ser comuns a todos e administrados pelas Comunas ou pelo Estado. A encíclica demora-se algum tempo no exame do problema da propriedade privada sustentando-se que a coletivização se torna injusta, pois contra o direito natural de possuir os próprios bens. Sendo o homem um ser inteligente, reconhece privilegia mais que o simples uso das coisas materiais. Isso acontece devido ao direito de propriedade estável, ratificado pelo direito positivo e pela produtividade do homem, pois o mesmo dever ser proprietário dos frutos do seu trabalho.

A contribuição oferecida pela doutrina social da Igreja é insubstituível, porque ela trata de questões para as quais não se encontram sem a cultura da religião. Quando há promessas de acabar com as disparidades sociais e uma vida sem sofrimento, a igreja-instituição engana fiel.

A igreja propõe uma colaboração entre as classes sociais. Ensinando que as classes precisam uma das outras, por isso a igreja deixa clara a composição das divergências entre as classes, apresentando então a contribuição da sua doutrina social.



d) Faça um comentário à encíclica Fratelli Tutti, situando alguns avanços dela em relação à Rerum Novarum.


Fratelli Tutti, propõe que podemos fazer uma “política melhor” a partir do amor fraterno. Tal afirmação seria considerada ilusória ou demagoga se fosse declarada por qualquer outra pessoa. Porém, o testemunho pessoal de Francisco, marcado pela humildade e pela ternura explícita para com os excluídos e os que sofrem, que torna inspiração na luta por uma sociedade melhor. Sendo assim, a encíclica está fortemente embasada na doutrina social da igreja precedente a Francisco. Mostra como a ideologia neoliberal de autorregulação dos mercados e a ideologia nacional-populista. No em tando, a autodefesa de um grupo social ou nacional contra um mundo hostil, são manifestações políticas do individualismo moderno. Rerum Novarum se trata de questões levantadas durante a revolução industrial e as sociedades democráticas. Ela critica fortemente a promoção de princípios éticos e valores morais na sociedade progressivamente laicizada  de seu tempo. Uma das grandes causas dos problemas sociais, refere a princípios que deveriam ser usados na procura da justiça social e econômica como, por exemplo, a distribuição de renda; a intervenção do estado na economia a favor dos pobres e desprotegidos; e um cuidado especial com a classe dos operários, que passou a ser pilar fundamental da doutrina social da Igreja.

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